O segundo dia de um dos maiores congressos de longevidade da América Latina trouxe uma programação rica e inspiradora, com palestras fundamentadas em sólidas evidências científicas.
O evento reuniu médicos de renome internacional, como o Dr. Nathan Bryan e o Dr. Ron Rothenberg, além de grandes médicos nacionais, incluindo o Dr. Murilo Pereira, Dr. Artur Lemos, Dr. José Ribas, Dra. Thania Rossi, Dra. Cybelle Vasconcelos e a respeitada farmacêutica Dra. Tamiris Marques.
Confira os destaques do conteúdo apresentado neste segundo dia:
Interpretação de exames bioquímicos e do microbioma para prescrições assertivas
Na palestra do Dr. Murilo Pereira, um dos destaques foi a importância de entender que os exames são ferramentas para complementar o diagnóstico clínico, mas não devem ser vistos como condicionais para a prática médica.
Com uma abordagem detalhada, o professor abordou como interpretar exames laboratoriais, correlacionar resultados clínicos e oferecer prescrições assertivas que minimizem as causas subjacentes dos sintomas, em vez de simplesmente mascará-los.
Microbiota: Eubiose x Disbiose
O microbioma desempenha um papel central na saúde e no desenvolvimento de diversas condições clínicas. Segundo o Dr. Murilo, eubiose é o estado de equilíbrio da microbiota, enquanto a disbiose representa o desequilíbrio qualitativo e quantitativo do microbioma.
Esse desequilíbrio pode estar relacionado a:
- Leveduras e fungos: identificados por análises laboratoriais, incluindo culturas microbiológicas específicas.
- Síndrome IMO (supercrescimento de metanogênicos no intestino): caracterizada pela produção de metano e associada à constipação intestinal.
- Disbiose bacteriana ou fúngica: fatores que podem desencadear inflamação intestinal crônica.
O manejo adequado do microbioma requer estratégias que modulem a composição intestinal, promovendo o retorno à eubiose, o que reduz a exposição a lipopolissacarídeos e outros compostos inflamatórios.
Exames Bioquímicos: Ferramentas para Diagnósticos Precisos
Na palestra, foi enfatizado a necessidade de avaliar exames bioquímicos tradicionais em conjunto com exames específicos do microbioma. Destacaram-se os seguintes marcadores:
- Calprotectina fecal: indicador de inflamação intestinal. Valores entre 150 e 250 requerem correlação com outros exames para definição de conduta.
- PCR (proteína C reativa): auxilia na avaliação de inflamações sistêmicas.
- Ácido úrico: idealmente abaixo de 5,2 para reduzir riscos cardiovasculares.
- Índice de diversidade da microbiota: um microbioma mais diversificado é associado à saúde intestinal e metabólica.
Outros exames bioquímicos, como a elastase pancreática fecal, ajudam a identificar insuficiências enzimáticas, enquanto o monitoramento de vitamina B12 é essencial, especialmente para pacientes que fazem uso prolongado de inibidores da bomba de prótons, uma classe de medicamentos que pode causar resistência à insulina e deficiência de micronutrientes.
Estroboloma e o Papel dos Probióticos
Um dos conceitos mais inovadores apresentados foi o estroboloma, um subconjunto da microbiota intestinal responsável pela metabolização de estrogênios.
Disfunções nesse sistema aumentam a exposição a microtoxinas e a inflamação crônica. Probióticos específicos foram indicados como ferramentas eficazes para modular o microbioma, dependendo do quadro clínico individual.
A Importância de Um Estilo de Vida Saudável
Além dos exames laboratoriais, o Prof. Murilo ressaltou a necessidade de mudanças no estilo de vida para transformar a saúde dos pacientes:
- Monitoramento alimentar: evitar alimentos ricos em histamina, como queijos envelhecidos, tomate, espinafre, vinhos e cervejas fermentadas, pode aliviar sintomas associados a disbiose e inflamação.
- Práticas regulares de exercícios físicos: ajudam a manter um microbioma saudável e a reduzir inflamações sistêmicas.
- Suplementação direcionada: ajustes de vitamina D, probióticos e enzimas digestivas promovem a restauração da integridade intestinal.
A palestra do Dr. Murilo Pereira destacou que os exames bioquímicos e do microbioma são peças de um quebra-cabeça maior. Eles devem ser interpretados com base nos sinais e sintomas do paciente, permitindo a formulação de condutas mais assertivas e personalizadas.
O desafio é adotar uma visão integrativa, utilizando os dados laboratoriais como ferramentas para promover equilíbrio metabólico e saúde duradoura, e nunca como substitutos do raciocínio clínico.
A Arte e a Ciência dos GLP-1 RA’s (Semaglutida e Tizerpatida)
O Dr. Ron Rothenberg apresentou uma palestra que combinou ciência avançada e prática clínica, explorando o universo das incretinas – hormônios peptídicos que estão revolucionando a abordagem de condições metabólicas, inflamatórias e até neurodegenerativas.
A apresentação destacou o papel do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1) e do GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) na promoção de saúde e longevidade.
Fisiologia e Funções das Incretinas
As incretinas são hormônios liberados pelo trato gastrointestinal em resposta à presença de nutrientes, como glicose e gordura, e desempenham um papel crucial na regulação metabólica.
Ambos os hormônios potencializam a secreção de insulina e possuem receptores amplamente distribuídos no organismo, abrangendo o cérebro, sistema cardiovascular, rins e sistema imunológico.
GLP-1 e GIP:
- GLP-1: secretado pelas células L do intestino delgado inferior e cólon, é responsável por estimular a secreção de insulina, reduzir a inflamação e promover saciedade.
- GIP: liberado pelas células K do intestino delgado superior, atua sinergicamente com o GLP-1 para melhorar a homeostase da glicose e outros processos fisiológicos.
O Dr. Rothenberg destacou que esses hormônios vão além da função gastrointestinal, apresentando benefícios extras como melhora cognitiva, proteção cardiovascular, regulação renal e até propriedades regenerativas.
Aplicações Clínicas e Titulação Individualizada
Os agonistas dos receptores de GLP-1 (GLP-1 RA) foram originalmente desenvolvidos para tratar diabetes tipo 2, mas seus efeitos se expandiram para incluir perda de peso, controle de compulsões e até mesmo melhora de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.
Estratégias de Titulação e Personalização:
- A “arte” do tratamento consiste em ajustar doses com base nas necessidades individuais do paciente, evitando efeitos colaterais como náusea e otimizando os resultados.
- As doses podem ser adaptadas para pacientes que não buscam perda de peso, mas alívio de condições autoimunes (como lúpus e fibromialgia), distúrbios hormonais ou transtornos compulsivos.
O Dr. Ron Rothenberg também mencionou o uso de micro dosagens, uma abordagem inovadora para tratar pacientes que apresentam boa resposta a doses muito baixas de incretinas.
Benefícios para Saúde e Longevidade
Entre os muitos benefícios das incretinas, destacam-se:
- Metabolismo e Inflamação: ambas as incretinas reduzem inflamação e resistência à insulina, impactando positivamente condições como diabetes, obesidade e síndrome metabólica.
- Neuroproteção: estudos apontam que o GLP-1 pode atravessar a barreira hematoencefálica, protegendo contra neuroinflamação e melhorando a memória.
- Prevenção Cardiovascular: as incretinas estabilizam placas ateroscleróticas, reduzem o estresse oxidativo e melhoram a função endotelial, diminuindo o risco de eventos cardiovasculares.
- Controle de Compulsões: os agonistas de GLP-1 mostraram benefícios em transtornos de dependência e compulsão, como vícios em álcool e jogos, modulando o sistema de recompensa do cérebro.
Apesar dos benefícios das incretinas, o Dr. Ron Rothenberg enfatizou que esses medicamentos devem ser associados a mudança de estilo de vida. Alimentação balanceada, prática regular de exercícios físicos e suplementação adequada são fundamentais para potencializar os efeitos do tratamento.
Ele destacou ainda a necessidade de incluir probióticos no protocolo para melhorar a saúde intestinal e modular a microbiota, promovendo melhor absorção de nutrientes e redução de inflamações sistêmicas.
Riscos Potenciais e Manejo
Embora sejam altamente eficazes, os GLP-1 RAs não estão isentos de riscos:
- Efeitos colaterais: náuseas, vômitos e desconforto gastrointestinal podem ser minimizados com ajustes de dose e hidratação adequada.
- Interrupção gradual: pacientes que atingirem seus objetivos com o tratamento devem diminuir gradualmente as doses para evitar o reganho de peso e o retorno dos sintomas metabólicos.
Além disso, casos raros de gastroparesia e contraindicações em pacientes com histórico de neoplasias específicas, como carcinoma medular de tireoide, requerem monitoramento clínico rigoroso.
A palestra reforçou o potencial transformador das incretinas na prática clínica. Ao integrar a ciência das incretinas com uma abordagem humanizada e personalizada, os médicos podem oferecer tratamentos que vão além da simples gestão de sintomas, promovendo saúde integral e longevidade.
Como o Dr. Ron Rothenberg afirmou em sua palestra no primeiro dia do Congresso, “estamos bem quando as mitocôndrias estão bem“. Esse conceito encapsula a importância de um cuidado holístico que englobe desde o metabolismo celular até a saúde global do paciente.
Óxido Nítrico: Inovações na Saúde e na Longevidade
O Dr. Nathan Bryan apresentou a palestra sobre a relevância do óxido nítrico (NO), destacando sua atuação como um radical livre protetor essencial para o organismo.
Com base em evidências científicas e práticas clínicas, a palestra revelou como o NO desempenha um papel central na saúde cardiovascular, metabolismo, longevidade e bem-estar de modo geral.
Por que estudar o óxido nítrico?
O óxido nítrico é crucial para a regulação de diversos sistemas corporais. Muitas doenças crônicas estão associadas à produção prejudicada ou insuficiente de NO, incluindo hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes e condições neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. A restauração da produção de NO foi apresentada como uma estratégia promissora para reverter ou prevenir essas condições.
Teoria unificada da doença e do envelhecimento
Dr. Nathan Bryan introduziu a teoria simplificada de que as doenças são causadas por dois fatores principais:
- A exposição a toxinas que comprometem a função celular.
- A falta de nutrientes essenciais que interrompem o funcionamento celular normal.
Esses dois fatores convergem para a interrupção da produção de NO, desencadeando inflamação, estresse oxidativo e disfunção imunológica, que estão presentes em praticamente todas as doenças crônicas.
O papel do óxido nítrico na saúde
O NO atua em três áreas críticas da saúde:
- Telômeros e longevidade: estudos mostram que o NO ativa a telomerase, prevenindo o encurtamento dos telômeros e retardando a senescência celular, o que está diretamente associado à longevidade. A perda de NO está vinculada ao aumento da mortalidade por doenças relacionadas à idade.
- Mitocôndrias: como regulador mestre, o NO melhora a biogênese mitocondrial, aumenta a eficiência metabólica e reduz os danos causados por radicais livres.
- Células-tronco: A mobilização e diferenciação das células-tronco dependem da biodisponibilidade de NO, tornando-o essencial para a regeneração e reparo tecidual.
Impacto clínico e aplicações
- Saúde cardiovascular: o NO dilata os vasos sanguíneos, melhorando o fluxo sanguíneo e reduzindo a pressão arterial. Estudos demonstram que pacientes tratados com tecnologias de NO apresentaram redução significativa nos eventos cardiovasculares.
- Doenças neurodegenerativas: o uso de NO mostrou benefícios na prevenção de Alzheimer e Parkinson, restaurando a perfusão cerebral e reduzindo inflamações neurovasculares.
- Metabolismo e diabetes: a deficiência de NO está associada ao aumento da resistência à insulina e à obesidade visceral. Pacientes com baixa produção de NO apresentam maior risco de complicações metabólicas.
- Terapias inovadoras: produtos como Nitrocardio oferecem uma solução direta para suprir a deficiência de NO. Essa tecnologia revolucionária, apresentada como a primeira forma sólida de NO, tem mostrado resultados promissores na melhora da perfusão e na recuperação tecidual.
Estratégias para restaurar o óxido nítrico
Dr. Nathan Bryan destacou abordagens para otimizar a produção de NO:
- Nutrição: consumir alimentos ricos em nitratos, como espinafre e beterraba, pode aumentar a produção de NO. O consumo recomendado é de 300 a 400 mg de nitrato por refeição.
- Estilo de vida: exercícios físicos regulares, sauna infravermelha e terapia de luz ajudam a estimular a produção de NO.
- Evitar fatores inibidores: o uso de enxaguantes bucais antissépticos e antiácidos pode interferir na produção de NO, podendo afetar negativamente a saúde cardiovascular e metabólica.
Alguns dados relevantes
- Impacto metabólico: nos EUA, 1 em cada 3 americanos tem síndrome metabólica, e 4 em cada 10 apresentam resistência à insulina, condições diretamente associadas à deficiência de NO.
- Terapia hormonal: o óxido nítrico é considerado a base para a eficácia de terapias de reposição hormonal, promovendo saúde cardiovascular e regeneração celular.
- Alzheimer e demência: estudos mostram que pacientes com diabetes tipo 2 tratados com agonistas do receptor de GLP-1, que aumentam a produção de NO, têm um risco 30% menor de desenvolver Alzheimer.
A palestra do Dr. Nathan Bryan evidenciou que o óxido nítrico não é apenas um radical livre, mas um verdadeiro “regulador de hormônio” essencial para a saúde e longevidade.
Restaurar e otimizar a produção de NO deve ser uma prioridade em abordagens clínicas preventivas e integrativas.
Com novas tecnologias e mudanças no estilo de vida, é possível transformar a saúde dos pacientes, promovendo bem-estar, longevidade e uma melhor qualidade de vida.
Ele encerrou a sua palestra com uma frase bastante pertinente que reflete o quanto devemos nos colocar em posição de aprendiz e buscar sempre por conhecimento:
“O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas a ilusão de conhecimento.” – Stephen Hawking.
SIMPÓSIO SATÉLITE – CENTRAL FARMA
Modulação do estresse oxidativo através de estratégias utilizando terapias injetáveis
Hoje também tivemos a honra de apresentar nosso Simpósio Satélite com dois grandes nomes da saúde integrativa, o Dr. Artur Lemos e a farmacêutica Dra. Tamiris Marques.
Eles trouxeram uma abordagem inovadora e prática sobre como utilizar terapias injetáveis para modular o estresse oxidativo e promover a saúde de maneira integrada.
Explorando as bases da medicina nutricional e da bioquímica, a apresentação enfatizou a importância de entender o estado de oxidação do paciente e adaptar as intervenções de forma personalizada.
A Base do Tratamento: Análise e Personalização
É indicado realizar uma avaliação detalhada do estado sistêmico do paciente, investigando fatores como o grau de estresse oxidativo, inflamação e produção de radicais livres. Esta análise permite determinar se o paciente está em um estado compensado ou de alto estresse celular, o que influencia diretamente na escolha dos protocolos terapêuticos.
A proposta de terapias injetáveis vai além da simples administração de nutrientes. Trata-se de uma abordagem que busca otimizar a biodisponibilidade dos compostos administrados, maximizando os resultados clínicos.
Intervenções Terapêuticas: Nutrição Intravenosa e Estratégias de Desintoxicação
As terapias injetáveis desempenham um papel central no controle do estresse oxidativo. Entre as opções terapêuticas mencionadas, estão:
- Quelantes: substâncias que ajudam a remover metais pesados e toxinas acumuladas no organismo.
- Antioxidantes: incluem compostos como glutationa, ácido alfa-lipóico e vitamina C, que neutralizam os radicais livres e reduzem danos celulares.
- Anti-inflamatórios: agem no controle de inflamações crônicas, promovendo um ambiente celular mais equilibrado.
- Reforço mitocondrial: estratégias para restaurar a função mitocondrial e melhorar a produção de energia celular.
O uso combinado de diferentes terapias é essencial para criar um protocolo eficiente e adaptado às necessidades de cada paciente. A seleção de substâncias, como acetilcisteína, lisina, glicina, tirosina, sulfato de Mg, taurina, feniletilamina, complexo B, vitamina C e selênio, deve ser feita com base nos objetivos terapêuticos e no perfil metabólico do paciente.
A Importância da Biodisponibilidade
Outro ponto central da palestra foi a necessidade de considerar a biodisponibilidade dos compostos utilizados. Terapias intravenosas, ao passarem o trato gastrointestinal, oferecem uma absorção mais rápida e eficaz, o que é crucial em casos de estresse oxidativo elevado.
Além disso, a escolha de formas químicas específicas, como sulfato de magnésio e azul de metileno, pode potencializar os resultados.
Resultados Esperados e Cuidados Necessários
A palestra também destacou que a modulação do estresse oxidativo pode trazer benefícios amplos, incluindo:
- Melhora na regeneração celular;
- Redução de inflamações crônicas;
- Estímulo à função mitocondrial;
- Controle de fatores que aceleram o envelhecimento celular.
No entanto, a Dra. Tamiris reforçou a importância de monitorar continuamente o paciente, ajustando as doses e combinações de acordo com a resposta terapêutica.
“Sempre considere as variáveis metabólicas do paciente e adapte o protocolo ao longo do tratamento“.
A abordagem apresentada ilustra o potencial das terapias injetáveis como uma ferramenta poderosa na saúde integrativa e medicina preventiva.
Ao combinar ciência, personalização e estratégias nutricionais, é possível oferecer tratamentos que vão além da redução de sintomas, promovendo uma saúde otimizada e resultados sustentáveis.
Protocolos Injetáveis: Virando o Jogo no Tratamento do Lipedema
O lipedema é uma condição inflamatória crônica que afeta principalmente mulheres, caracterizando-se pelo acúmulo desproporcional de gordura subcutânea nas extremidades inferiores e superiores.
Apesar de ser frequentemente confundido com obesidade, essa condição apresenta sintomas próprios, como dores intensas, edemas, perda de mobilidade e grande impacto psicológico.
O Dr. José Ribas trouxe alguns dados como, 12% da população feminina é afetada por essa doença, com seu surgimento frequentemente relacionado a mudanças hormonais significativas, como a puberdade (72%), gravidez (10%) e menopausa (26%).
Em homens, o lipedema também é associado a níveis baixos de testosterona.
Entendendo a Patogênese do Lipedema
O lipedema está relacionado a alterações no tecido adiposo, especialmente no tecido adiposo branco, que desempenha um papel metabólico crucial.
Esse tipo de tecido é responsável pelo armazenamento de energia, mas, em pacientes com lipedema, passa por processos de hipertrofia (aumento do volume das células adiposas) e hiperplasia (aumento do número de células adiposas), exacerbando os quadros de inflamação.
Outro ponto crítico destacado pelo Dr. Ribas é a conexão entre o intestino e o fígado. O microbioma intestinal influencia diretamente o equilíbrio hormonal, enquanto a permeabilidade intestinal comprometida pode aumentar os estímulos inflamatórios no organismo.
Essa relação reforça a necessidade de tratar o lipedema de forma sistêmica, com atenção especial às condições metabólicas e linfáticas.
Impactos e Estratégias de Tratamento
O lipedema, além de gerar inflamação crônica, está associado a alterações no sistema linfático e no endotélio capilar. Essas mudanças comprometem a drenagem linfática e resultam em acúmulo de líquidos, fibrose tecidual e aumento da dor. Por isso, um tratamento abrangente deve ir além das abordagens tradicionais, integrando a modulação do microbioma, ajustes no estilo de vida e intervenções nutricionais.
Protocolos Injetáveis: Um Marco Terapêutico
O Dr. Ribas apresentou os protocolos injetáveis como uma abordagem revolucionária no manejo do lipedema. Essas terapias oferecem nutrientes biodisponíveis diretamente na corrente sanguínea, potencializando a recuperação e minimizando os impactos inflamatórios.
Entre os principais compostos utilizados estão:
- Ácido alfa-lipoico: poderoso modulador inflamatório e antioxidante.
- Curcumina e resveratrol: atuam na prevenção da disfunção telomérica e na melhora do metabolismo celular.
- Coenzima Q10 e baicalina: promovem reparo mitocondrial e redução da inflamação.
Essas substâncias auxiliam na melhora da função celular e da inflamação, além de impulsionar a saúde mitocondrial, essencial para pacientes que lidam com distúrbios metabólicos crônicos.
Uma Abordagem Multissistêmica
Além dos protocolos injetáveis, o manejo do lipedema exige uma abordagem multissistêmica, que inclui:
- Nutrição Personalizada: dietas anti-inflamatórias que modulam o microbioma intestinal.
- Apoio Psicológico: focado no impacto emocional e social que a doença impõe às pacientes.
- Atividade Física Supervisionada: para melhorar a mobilidade e reduzir o acúmulo de líquidos.
- Intervenções Médicas e Cirúrgicas: em casos avançados, a lipoaspiração pode ser considerada para melhorar a qualidade de vida.
O lipedema é uma doença que exige reconhecimento, diagnóstico precoce e tratamento abrangente.
Os protocolos injetáveis, aliados a uma abordagem sistêmica e individualizada, representam um avanço significativo para as pacientes, promovendo alívio dos sintomas, melhora na mobilidade e qualidade de vida.
Como o Dr. Ribas destacou, “tratar o lipedema de forma segura e dedicada é a melhor estratégia para devolver saúde e bem-estar às pacientes“.
A Polêmica da Progesterona: Afinal Por Qual Via?
O Dr. José Antonio Leprevost, um dos maiores nomes em saúde sexual e hormonal, os participantes tiveram a oportunidade de mergulhar em um tema de extrema relevância e, ao mesmo tempo, cercado de dúvidas: a administração da progesterona e a melhor via de aplicação.
Baseando-se em evidências científicas e em sua ampla experiência clínica, o médico apresentou uma análise detalhada sobre os diferentes métodos disponíveis, desmistificando práticas comuns e promovendo uma abordagem segura e eficaz para o uso da progesterona.
Progesterona: Mais que um Hormônio Reprodutivo
O Dr. Leprevost relembrou a importância central da progesterona para a saúde geral, enfatizando que seus efeitos vão muito além do sistema reprodutivo. Ele destacou seu papel protetor em diversas áreas, como:
- Sistema cardiovascular: auxiliando na regulação da pressão arterial e na saúde endotelial.
- Saúde cerebral: com impacto direto na neuroproteção, memória e qualidade do sono.
- Bem-estar emocional: ajudando no controle da ansiedade e em sintomas de depressão relacionados ao ciclo hormonal.
- Saúde óssea: contribuindo para a manutenção da densidade mineral óssea e prevenindo a osteoporose.
Desafios na Escolha da Via de Administração
Um dos grandes pontos de discussão na prática clínica é como administrar a progesterona de maneira eficaz e segura. O Dr. Leprevost detalhou as características de cada via de administração, apontando seus prós, contras e as indicações específicas para cada caso:
- Via oral: apesar de amplamente prescrita, a metabolização hepática da progesterona oral pode levar à formação de metabólitos que, em alguns casos, estão associados a efeitos adversos como sonolência e retenção de líquidos. Contudo, ela pode ser a escolha adequada para pacientes que necessitam de uma liberação contínua.
- Via transdérmica: uma das mais seguras em muitas situações, especialmente por evitar o metabolismo hepático, garantindo níveis mais estáveis de progesterona. É uma alternativa amplamente utilizada em terapias de reposição hormonal e condições como síndrome pré-menstrual severa.
- Via vaginal: frequentemente indicada para condições locais, como suporte na gestação ou em tratamentos específicos, essa via também tem o benefício de um impacto direto nos tecidos-alvo.
- Via injetável: indicada em casos que exigem reposição rápida e eficaz, como situações de emergência hormonal ou em tratamentos pontuais. Apesar de menos frequente, o uso dessa via requer atenção a dosagens e intervalos.
Evidências Recentes e a Preferência pela Bioidêntica
A palestra trouxe a explanação sobre os benefícios da progesterona bioidêntica em comparação aos progestágenos sintéticos. O Dr. Leprevost destacou que a bioidêntica, por ser estruturalmente idêntica à produzida pelo corpo, é melhor tolerada e apresenta menor risco de efeitos colaterais.
Estudos recentes indicam que essa forma de progesterona está associada a um impacto mais positivo em áreas como saúde cardiovascular e saúde mental.
Ele também reforçou como a escolha pela bioidêntica permite maior precisão nos tratamentos personalizados, um ponto crucial para o sucesso terapêutico.
Personalização: O Ponto de Ouro no Tratamento
Outro ponto crucial abordado foi a necessidade de personalização no tratamento. O Dr. Leprevost enfatizou que o protocolo ideal deve considerar fatores como idade, histórico clínico, níveis hormonais, presença de comorbidades e até mesmo o estilo de vida do paciente.
Ele compartilhou casos clínicos para exemplificar como a individualização da abordagem pode maximizar os benefícios e reduzir os riscos.
Quando e Como Prescrever Progesterona
Para guiar os profissionais de saúde, o Dr. Leprevost apresentou os principais critérios de avaliação para decidir quando e como prescrever progesterona, incluindo:
- Avaliação dos níveis hormonais basais e acompanhamento regular;
- Monitoramento de possíveis efeitos colaterais, como alterações de humor ou sintomas gastrointestinais;
- A escolha da via mais adequada, considerando a condição a ser tratada (ex.: reposição hormonal na menopausa, suporte na gestação, controle de sintomas pré-menstruais severos ou tratamento de distúrbios do sono).
A Ciência e a Prática Clínica Caminhando Juntas
O Dr. Leprevost reforçou que a “polêmica” sobre a progesterona não deve ser vista como um obstáculo, mas como uma oportunidade para aprofundar o conhecimento científico e aprimorar as práticas clínicas.
Ele destacou que a escolha da via ideal não é apenas uma decisão técnica, mas sim um ato de cuidado que impacta diretamente a qualidade de vida do paciente.
Com uma apresentação didática, embasada e enriquecida por dados recentes, o Dr. José Antonio Leprevost mais uma vez destacou-se como uma referência no tema, promovendo o avanço da prática médica e o bem-estar dos pacientes.
Cannabis Medicinal e Performance Desportiva
Em um cenário onde saúde, desempenho e ciência se encontram, a Dra. Thania explorou como o sistema endocanabinoide (ECS) pode ser modulado de forma terapêutica, destacando tanto os benefícios quanto os desafios da aplicação de canabinoides em atletas.
Cannabis e o Sistema Endocanabinoide: Um Equilíbrio Corporal
O sistema endocanabinoide desempenha um papel fundamental na homeostase do corpo humano, regulando funções como imunidade, inflamação, metabolismo, memória, humor e coordenação motora.
Composto pelos receptores CB1 e CB2, seus ligantes endógenos (endocanabinoides) e enzimas de produção e degradação, ele é um sistema versátil e dinâmico.Os principais compostos químicos, THC e CBD, interagem diretamente com esses receptores.
Enquanto o THC é um agonista parcial do CB1, o CBD atua como modulador alostérico negativo, protegendo contra os efeitos adversos do THC, como ansiedade ou alterações cognitivas. Essa interação é essencial para explorar o potencial terapêutico da planta, especialmente em contextos esportivos.
A Diversidade da Cannabis
A cannabis contém quase 500 compostos químicos, incluindo 144 fitocanabinoides e 100 terpenos, cada um com propriedades terapêuticas específicas. Entre os terpenos, destacam-se:
- Limoneno: Antidepressivo e ansiolítico.
- Terpinoleno: Antiinflamatório e útil para asma.
- Mirceno: Antioxidante e indicado para insônia.
- Cariophileno: Analgésico e anti-insônia.
Cada planta possui predominância de diferentes compostos, permitindo personalizar tratamentos de acordo com a necessidade do paciente.
Cannabis e Esportes: Um Olhar Científico
No universo esportivo, a cannabis medicinal apresenta oportunidades e desafios. Estudos apontam que o sistema endocanabinoide é ativado durante exercícios físicos intensos, promovendo:
- Ansiólise e sensação de bem-estar.
- Redução da inflamação por modulação de citocinas inflamatórias.
- Broncodilatação e melhor capacidade pulmonar.
- Euforia e diminuição da ansiedade após atividades físicas moderadas, como correr em uma esteira.
Aplicação de Canabinoides em Atletas
A Agência Mundial Antidoping (WADA) removeu o CBD de sua lista de substâncias proibidas em 2018, permitindo seu uso por atletas para fins terapêuticos. O CBD se destaca por:
- Ações anti-inflamatórias e neuroprotetoras.
- Potencial para aliviar dores musculares e esqueléticas.
- Promoção da recuperação pós-exercício sem comprometer o desempenho muscular.
No entanto, o uso de THC em competição ainda é restrito, devido ao impacto na cognição e no estado de alerta. A recente regulamentação aumentou o limite de THC para 150 nanogramas por mililitro, alinhando-se às regras internacionais.
Cannabis e Concussões
Atletas de esportes de contato frequentemente enfrentam lesões cerebrais, como concussões, associadas a inflamações e neurodegeneração. O uso de canabinoides mostrou:
- Redução da neuroinflamação e morte celular.
- Estimulação da neuroplasticidade e neurogênese.
- Inibição da hiperfosforilação da proteína Tau, um marcador associado a doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Encefalopatia Traumática Crônica.
Esses benefícios tornam os canabinoides uma ferramenta valiosa para tratar concussões e proteger a saúde neurológica dos atletas.
Educação e Segurança
Apesar dos avanços, a Dra. Thania trouxe que apenas 9% das escolas médicas incluem ensinamentos sobre os usos terapêuticos da cannabis. Isso reforça a importância de ampliar a educação entre profissionais de saúde, especialmente no acompanhamento de atletas.
Outro ponto fundamental é garantir a segurança dos produtos utilizados. Organizações como a National Sanitation Foundation (NSF) certificam produtos isentos de substâncias proibidas, promovendo transparência e segurança para os consumidores.
A cannabis medicinal, quando utilizada de forma responsável e com acompanhamento médico, pode transformar o cuidado com atletas, auxiliando na recuperação, no alívio da dor e na modulação de processos inflamatórios.
A palestra da Dra. Thania Rossi trouxe uma abordagem equilibrada e científica, promovendo um diálogo aberto sobre o potencial da cannabis no esporte e ressaltando a importância de pesquisas contínuas para maximizar seus benefícios e mitigar riscos.
A combinação de ciência, ética e inovação abre novas portas para o uso responsável da cannabis medicinal na performance desportiva, mostrando que saúde e desempenho podem caminhar juntos de forma sustentável e segura.
Abordagem Integrativa na Prevenção de Doenças Cardiovasculares: Modismo ou Uma Realidade na Prática Clínica Diária?
A Dra. Cybelle Vasconcellos trouxe uma visão revolucionária sobre a prevenção de doenças cardiovasculares, enfatizando a importância de um olhar integrativo e a necessidade de ir além dos fatores de risco tradicionais.
Repensando Estratégias e Expandindo Horizontes
O modelo clássico de análise de risco cardiovascular, baseado em fatores como hipertensão, diabetes e colesterol elevado, embora útil, precisa ser complementado. O conceito de CHD Gap (Coronary Heart Disease Gap) propõe uma abordagem mais ampla, investigando outros marcadores relevantes, como inflamação e função endotelial.
A função do endotélio foi destacada como um elemento-chave na prevenção cardiovascular. Mais do que simplesmente avaliar o grau de obstrução das artérias, é necessário compreender a integridade vascular e os processos inflamatórios que afetam a saúde cardiovascular.
A Nova Medicina: Um Olhar Integrativo
A Dra. Cybelle ressaltou que a medicina está vivendo uma revolução, onde a abordagem integrativa torna-se essencial. Essa visão considera múltiplos aspectos do paciente, desde fatores metabólicos e hormonais até o estilo de vida e a gestão do estresse.
Além disso, os números preocupantes relacionados às doenças cardiovasculares reforçam a urgência dessa abordagem. No Brasil, mais de 32% da população adulta apresenta fatores de risco para doenças cardiovasculares, e as doenças do coração são responsáveis por 30% das mortes anuais no país.
Inflamação: O Verdadeiro Vilão
A inflamação crônica foi apontada como um dos principais contribuintes para a mortalidade cardiovascular. Marcadores como a Lipoproteína(a), dislipidemias, e o papel da obesidade destacam a necessidade de tratar as condições subjacentes que exacerbam os processos inflamatórios.
- Lipoproteína(a): contribui para a oxidação.
- Obesidade: Afeta negativamente o perfil lipídico e aumenta a inflamação sistêmica.
A conexão entre inflamação, obesidade e dislipidemia foi explicada com base na interação metabólica e nos efeitos sistêmicos dessas condições sobre o sistema cardiovascular.
O Conceito de Dupla Barreira
Um dos destaques foi o conceito de dupla barreira, que enfatiza a permeabilidade vascular como um indicador crucial na saúde cardiovascular. A análise da espessura médio-intimal carotídea (IMT) e o uso de exames avançados, como o doppler e o score de cálcio, foram apresentados como ferramentas fundamentais para identificar riscos antes que ocorram eventos clínicos graves, como infarto ou AVC.
Abordagem Preventiva: Além da Medicina Convencional
A abordagem integrativa na prevenção cardiovascular envolve mudanças profundas no estilo de vida e suplementação estratégica.
- Nutrição: A introdução de uma dieta balanceada, com foco em alimentos anti-inflamatórios e ricos em antioxidantes, é essencial para prevenir a inflamação e melhorar o metabolismo.
- Suplementação: O uso de suplementos específicos para reduzir a inflamação, como ômega-3, foi destacado como uma forma eficaz de modular os marcadores inflamatórios.
A palestra da Dra. Cybelle Vasconcellos reforçou que a prevenção cardiovascular precisa evoluir para além do tratamento medicamentoso isolado. Adotar estratégias integrativas, que envolvem desde mudanças alimentares até o manejo do estresse, pode reduzir significativamente a morbimortalidade cardiovascular.
Esse olhar ampliado e integrativo para o cuidado com a saúde oferece qualidade de vida, reafirmando o papel do médico como um agente transformador na prevenção de doenças e na promoção da longevidade saudável.
Prêmio Longevidade Saudável 2023 e 2024 – MÉDICOS E PROFISSIONAIS DA SAÚDE QUE CONTRIBUÍRAM PARA A SAÚDE DA POPULAÇÃO NO BRASIL
Encerramos o segundo dia do 10º Congresso Internacional de Longevidade e Terapias Integrativas com um momento especial de celebração: o Prêmio Longevidade Saudável, que homenageia médicos e profissionais da saúde que têm se destacado na missão de transformar a saúde no Brasil.
Em 2023, tivemos o privilégio de agraciar a Dra. Margarita Ubaldo, cuja trajetória de dedicação e excelência marcou profundamente o cuidado com a saúde integrativa.
Neste ano, celebramos o legado do Dr. Antonio Teixeira, uma referência em evolução na medicina, onde tem sido um exemplo de inovação, cuidado e compromisso com a ciência e a medicina integrativa.
Este prêmio, entregue por Carlos Avellar, é um tributo à sua dedicação em oferecer saúde e esperança a tantas vidas, reafirmando a importância de profissionais que enxergam a medicina como uma ponte para a transformação.
Ao concluir este dia especial, somos tomados pelo orgulho e pela gratidão, lembrando que a jornada pela saúde e longevidade é feita de paixão, ciência e humanidade.
Por fim…
Reafirmamos nosso compromisso com a ética e a transparência em relação a cada conteúdo apresentado hoje. Ressaltamos que as palestras refletem as pesquisas, opiniões e experiências individuais de seus respectivos palestrantes, não representando necessariamente a visão oficial da organização do congresso.